Autor: Fernanda Oliveira dos Santos (Currículo Lattes)
Resumo
A Transformação Digital (TD) tornou-se uma nova abordagem para que as empresas obtenham vantagens competitivas em um contexto de intensa e dinâmica concorrência de mercado, sendo considerada um dos principais desafios enfrentados pelas empresas nos últimos anos, o que não é diferente entre as Micro e Pequenas Empresas (MPE). As MPEs são consideradas organizações dinâmicas, flexíveis e ágeis, o que lhes garante uma certa vantagem competitiva; porém, são vistas como financeiramente restritas, conservadoras, e avessas à inovação. Com o avanço das tecnologias digitais, o comportamento do consumidor e a redução das barreiras geográficas entre os concorrentes, as organizações estão sendo forçadas a digitalizar os seus processos para manterem-se competitivas no mercado. Vale ressaltar que a TD não trata apenas do uso das tecnologias, mas envolve fatores organizacionais, tecnológicos e ambientais. Assim, o objetivo dessa pesquisa foi compreender o processo de adoção de iniciativas de Transformação Digital nas Micro e Pequenas Empresas, a partir da Teoria da Estruturação da Tecnologia, proposta por Orlikowski, a fim de verificar como ocorre o processo de estruturação e metaestruturação da Transformação Digital nas Micro e Pequenas Empresas. A escolha pela Teoria Estruturacional como base para a realização deste estudo se deu por esta permitir uma visão mais ampla desse fenômeno, compreendendo fatores objetivos e subjetivos, assim como a influência do uso das tecnologias no contexto das organizações. A pesquisa teve uma abordagem qualitativa com a realização de entrevistas semiestruturadas com nove empresários de MPEs localizadas no extremo Sul do Rio Grande do Sul, dos setores de comércio e serviço. O estudo revelou que, apesar dos desafios enfrentados, as MPEs estão adotando cada vez mais tecnologias digitais para permanecerem competitivas, destacando-se as redes sociais, softwares de gestão e plataformas de venda e delivery. Os principais benefícios percebidos incluem o alcance expandido de mercado, aumento das vendas, melhoria da eficiência operacional e uma experiência aprimorada do cliente. Os facilitadores incluem a demanda dos clientes por praticidade, a adaptação às novas tecnologias impulsionada pela pandemia e a busca ativa por conhecimento e capacitação. No entanto, as MPEs enfrentam barreiras como falta de recursos humanos qualificados, resistência à mudança e custos associados à digitalização. A análise do processo de estruturação e metaestruturação da tecnologia destacou a influência das condições institucionais na forma como as MPEs respondem aos desafios e implementam práticas de TD, ressaltando a importância de uma abordagem estratégica e adaptada às necessidades específicas de cada empresa. Além disso, os resultados obtidos demostram que no contexto de TD nas MPEs o papel de mediação é realizado pelos próprios empresários, clientes e consultores especializados. Os empresários exercem o papel de mediadores ao definirem estratégias de implementação das soluções digitais, consolidar a comunicação interna e equilibrar a inovação tecnológica com os valores fundamentais da empresa. Sua liderança é essencial para garantir uma transição suave e satisfatória, mantendo o foco na experiência do cliente e na eficiência operacional. Consultores e especialistas em tecnologia também desempenham um papel de mediação, auxiliando na seleção, implementação e uso eficaz das tecnologias, além de oferecer insights valiosos durante o processo de TD. Além disso, os clientes influenciam a demanda das MPEs por inovação e tecnologia, impulsionando a adoção tecnológica nessas empresas. Esses mediadores contribuem fornecendo suporte, orientação e insights essenciais para a adoção e implementação bem-sucedida da TD nas MPEs. As implicações práticas do estudo destacam a necessidade de investimentos em capacitação, suporte técnico e uma cultura organizacional que promova a inovação. Por fim, como contribuições teóricas, o estudo, ao empregar a Teoria da Estruturação, oferece insightssobre como a interação entre estruturas sociais e agentes humanos influencia a adoção de tecnologias digitais dentro dessas empresas.