Autor: Caroline Cruz Ornel (Currículo Lattes)
Resumo
O trabalho assume papel central na vida humana e, a maneira como é vivenciado, influencia diretamente na saúde do trabalhador. A carga de trabalho é oriunda da interação entre o trabalhador e o trabalho, demonstrando como a vida do trabalhador é influenciada pela organização, condições de trabalho e relações socioprofissionais. Diante disso, com a classificação da Covid-19 como pandemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), os regimes de trabalho foram reconfigurados para viabilizar a continuidade da prestação dos serviços, impulsionando o trabalho remoto emergencial. Regulamentado pelo programa eleito para gerir a universidade e, posteriormente, pela Instrução Normativa nº 65/2020 e Decreto 11.072/2022 no âmbito da administração pública federal, o teletrabalho substitui a necessidade do trabalhador se fazer presente nas instalações físicas da instituição, permitindo a realização das atividades mediada por tecnologia de teleprocessamento e telecomunicação. Tratou-se de um estudo qualitativo, descritivo que, por meio de estudo de caso, buscou atingir o objetivo de caracterizar a carga de trabalho de trabalhadores atuantes na Pró-Reitoria Administrativa da Universidade Federal de Pelotas no Rio Grande do Sul ante a transição do modelo de trabalho presencial para o remoto. Para isso, foram realizadas quinze entrevistas juntos aos servidores Técnico-Administrativos em Educação (TAEs). O estudo descreveu as modificações no contexto de trabalho (considerando aspectos dos parâmetros de trabalho), verificou os conflitos vivenciados durante o trabalho remoto emergencial, identificou estratégias de mediação utilizadas pelos trabalhadores, analisou a percepção de desgaste em termos físicos, cognitivos e psíquicos, e identificou aspectos positivos e negativos que, de acordo com fatores contextuais, foram traduzidos em percepções de bem-estar ou mal-estar no trabalho. Para tratamento e análise dos dados foi utilizado o método de análise de conteúdo e, como forma de apoio, a análise estatística de dados qualitativos com o auxílio do software Iramuteq®. Nesta pesquisa, a carga de trabalho foi compreendida por intermédio do impacto sobre a saúde do trabalhador, oriunda da maneira como percebe as exigências estabelecidas pelo contexto de trabalho. Verificada a importância dos parâmetros do trabalho como fontes de carga de trabalho, estando o aspecto físico da carga intimamente ligado às condições de trabalho, manifestando-se principalmente mediante sintomas como dores de cabeça, na coluna, desconfortos posturais e desconfortos oculares. A carga cognitiva demonstrou-se intimamente ligada à forma como a organização do trabalho estava posta, exigindo conciliação de atividades profissionais e pessoais em um mesmo ambiente, repercutindo em maior percepção de cansaço devido ao excesso de estímulos a que o cérebro humano foi submetido, levando, em alguns casos, à exaustão. A carga psíquica, responsável pela percepção global da carga, demonstrou relação, em especial, com a modificação da dinâmica das relações socioprofissionais, causando um misto de representações negativas (vivências de mal-estar) oriundas da imposição de isolamento social, dentre os principais: sensação de solidão, sensação de aprisionamento, estresse, ansiedade e angústia. A reformulação da comunicação foi a principal estratégia de mediação encontrada para minimizar os efeitos do isolamento, mas também foi a principal responsável pela extinção de limites entre vida profissional e pessoal. Representações positivas (vivências de bem-estar) também foram encontradas, dentre elas, a economia de tempo com deslocamento, flexibilidade de horários, maior autonomia, diminuição das interrupções e maior capacidade de concentração. Desta forma, constatou-se que a caracterização da carga de trabalho da PRA/UFPel não pode ser generalizada, devendo considerar a heterogeneidade dos trabalhadores, assim como fatores contextuais e estruturais que envolvem a adesão a esta modalidade de trabalho, sendo necessário não só atenção com os resultados entregues, mas certificando-se de que o trabalhador esteja exercendo suas atividades em condições saudáveis, com o intuito de prevenir o adoecimento. Apesar do predomínio de vivências de mal-estar durante o trabalho remoto emergencial, treze dos quinze entrevistados revelaram que desejam optar pelo programa de gestão, pois associam as percepções negativas ao cenário pandêmico. Dentre os treze que declararam interesse em optar pelo teletrabalho, dez desejam o teletrabalho parcial ou híbrido, pois sentiram falta do contato presencial com os colegas.