Dissertação - Carga de trabalho de profissionais de saúde prisional : o caso da equipe da Unidade Básica de Saúde prisional da Penitenciária Estadual do Rio Grande/RS

Autor: Cristiane Rodrigues Alves (Currículo Lattes)

Resumo

Diante do fenômeno global do encarceramento, em que o Brasil representa a terceira maior população carcerária do mundo, observou-se a necessidade de estudar a realidade dos trabalhadores de saúde que atuam em instituições penitenciárias. Assim, esta pesquisa teve o objetivo geral de caracterizar a carga de trabalho implicada na atividade da Equipe de Saúde Prisional (ESP) que atua na Unidade Básica de Saúde prisional (UBSp) instalada na Penitenciária Estadual do Rio Grande (PERG), composta por 1 médico clínico geral, 1 médico com experiência em saúde mental, 3 enfermeiros, 3 técnicos de enfermagem, 1 odontóloga, 1 auxiliar de saúde bucal, 2 psicólogos, 1 assistente social, 1 terapeuta ocupacional e 1 educador social, totalizando 15 profissionais. Para atender o objetivo geral, foi desenvolvida uma pesquisa classificada como qualitativa descritiva, com a aplicação do método Estudo de caso. Para garantir a cientificidade dos dados, foi efetuada a triangulação, por meio de entrevistas semiestruturadas, observação e obtenção de dados secundários, além da fase de validação e refutação. Também foi entrevistado um agente penitenciário que trabalha diretamente com a ESP. Os dados foram analisados pelo método Análise de Conteúdo e o tratamento dos dados obtidos foi realizado com o auxílio do software Iramuteq®. O projeto que originou a dissertação foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP-FURG), do Núcleo Municipal de Educação Coletiva em Saúde de Rio Grande (NUMESC-RG) e da Superintendência dos Serviços Penitenciários do Rio Grande do Sul (SUSEPE-RS). Verificou-se a importância dos parâmetros do trabalho como fontes da carga de trabalho. Estes parâmetros apresentam-se como exigências externas do contexto de trabalho e são constituídos de três variáveis interdependentes: organização do trabalho, condições de trabalho e relações socioprofissionais. Frente às contradições encontradas no contexto de trabalho, os trabalhadores utilizam estratégias de mediação. Se as gerirem de modo eficiente e eficaz, podem mitigar vivências de mal-estar no trabalho, adequando as atividades prescritas às reais e, com isso, podem proporcionar a transformação de representações negativas (mal-estar) em positivas (bem-estar). A carga de trabalho é um tema bastante relevante, mas que que a ciência se propõe a entender e ainda não goza de pleno consenso entre os autores. Constatou-se que a carga de trabalho é compreendida a partir do impacto sobre a saúde do trabalhador, em termos físicos e mentais, decorrente da forma que o indivíduo percebe as exigências formais e/ou informais estabelecidas no contexto de trabalho e, portanto, é o resultado da interação do trabalhador com os parâmetros do trabalho, por meio das estratégias de mediação individuais e coletivas. Neste estudo, a carga de trabalho foi classificada nas dimensões física, cognitiva e psíquica, de acordo com a literatura e o resultado da análise dos dados. O aspecto físico foi identificado como vinculado à integridade física que pode ser afetada mediante a exposição ao ambiente prisional. A esfera cognitiva apontou o custo cerebral dispendido em termos de atenção necessária e tomada de decisão. Já a carga psíquica representou a dimensão mais relevante da carga de trabalho, configurada pelo custo afetivo e relacional, em termos de dispêndio emocional, expresso na forma de reações afetivas, estado de humor e sentimentos vivenciados no trabalho. A tensão decorrente dos riscos intrínsecos ao ambiente prisional constitui um dos pontos característicos da carga psíquica dos profissionais da ESP. Por outro lado, sentem-se preservados da violência urbana em função das medidas de segurança, o que acaba impactando positivamente os aspectos físico e psíquico da carga de trabalho. As relações socioprofissionais com as Pessoas Privadas de Liberdade (PPL) também geram situações de desconforto, mas, ao mesmo tempo, de satisfação. Apesar das contingências impostas, o trabalho é bem organizado, sobretudo pelo domínio do objeto de trabalho, já que a Equipe tem acesso constante aos pacientes e consegue dar continuidade ao tratamento, o que faz com que o trabalho seja bem menos desgastante. Embora a ESP esteja inserida em um ambiente com uma proposta divergente da sua e inicialmente tenha tido seus valores desrespeitados, conseguiu propagar seu trabalho e promover certa mudança de mentalidade nas pessoas que integram suas relações socioprofissionais. A Equipe mantém uma convivência saudável e participativa entre si, o que constitui um dos pontos de maior satisfação entre os profissionais, levando-os a desenvolver estratégias de mediação bem sucedidas que minimizam o desgaste. Além disso, recebeu premiações pelo seu trabalho, que contribuíram para o reconhecimento interno e externo, e reforçaram o espírito de cooperação. Os profissionais da ESP expressaram a prevalência de representações de bem-estar, evidenciando um trabalho equilibrante.

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Palavras-chave: Gestão de pessoasCarga de trabalhoRelações de trabalhoSaúde no trabalhoSubjetividadeProfissionais da saúde