Dissertação - Substituição em massa de pessoal como mecanismo de mudança institucional na organização do trabalho em um HU federal

Autor: Patrick Matos Freitas (Currículo Lattes)

Resumo

Os hospitais universitários são locais propícios a criação de arranjos de organização do trabalho por parte dos profissionais. Hábitos, rotinas e práticas suprem a inexistência da regulamentação por parte da gestão e do governo federal. Essas práticas são institucionalizadas ao longo dos anos, auferindo legitimidade. A EBSERH foi criada pelo Governo Federal com o objetivo de substituir recursos humanos contratados de forma precária pelas Universidades, gerir recursos de custeio e capital e alterar o modelo de gestão dos HU. O presente trabalho tem como objetivo compreender se a mudança organizacional proposta com a criação da empresa e a substituição em massa dos trabalhadores que atuam nos hospitais universitários foi capaz de desinstitucionalizar a forma construída ao longo dos anos, marcada pela autonomia e autogestão dos trabalhadores. Objetiva-se compreender se aquela forma cedeu lugar a um novo modelo voltado a atender a uma série de mudanças implementadas no serviço público federal iniciadas desde a década de 1990, baseadas no New Public Management. Trata-se de um estudo qualitativo, com uma abordagem exploratória por meio de em estudo de caso. Foram coletados dados através de entrevistas com trabalhadores por meio de roteiro semiestruturado além da obtenção de dados junto ao hospital e fundação de apoio por meio da Lei de Acesso à Informação. Para análise de dados foi utilizada a abordagem fenomenológica descritiva de Sanders, aplicada aos estudos organizacionais. Como resultado verificou-se uma forte influência da academia sobre a gestão e a organização do trabalho dos HU. Além disso, por se tratar de uma típica burocracia-profissional existe uma distribuição assimétrica de poder aos profissionais médicos. A participação sindical nos rumos das decisões de gestão da Universidade e do HU denotam o poder das categorias na administração, ocorrendo a cooptação das principais lideranças como forma de diminuir a pressão sobre a gestão. Uma das principais causas encontradas para a formação de arranjos institucionalizados foi o distanciamento da gestão universitária do HU, abrindo espaço para o poder e influência dos profissionais organizarem o trabalho de acordo com seus interesses. Como principal resultado observou-se que a mudança organizacional pretendida não surtiu nos primeiros cinco anos de gestão o objetivo pretendido. Ao contrário, há indícios de que ocorreu uma aculturação por parte dos novos trabalhadores de hábitos, rotinas e práticas dos trabalhadores remanescentes. Fatores que podem explicar este fenômeno são a força dos profissionais remanescentes como categoria profissional, a influência de fatores externos como sindicato e academia na gestão do hospital e a pouca efetividade de políticas integrativas por parte da gestão. A substituição de pessoal foi a solução mais simples para implementar uma mudança de política de pessoal. A mudança dos recursos humanos em tese traria os resultados de forma imediata. Todavia, para ser operacionalizada e surtir os efeitos desejados exigiria uma participação da gestão que em nenhum momento ocorreu da forma necessária.

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Palavras-chave: Administração públicaTeoria institucionalOrganização do trabalhoAdministração de recursos humanosHospitais universitáriosEmpresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH)Poder profissional